ANDRÉA ANDRADE
...espaço virtual para reflexão sobre psicologia e educação!
Adolescência, família e drogas
“A adolescência é como um segundo parto: o filho nasce da família para
entrar na sociedade”
Particularmente acredito muito no poder do
conhecimento para a transformação do ser humano, através da auto-educação. Essa
palestra sobre adolescência, nas diversas vezes que já tive oportunidade de
divulgá-la, em casas espíritas ou escolas, vem acrescentar muito aos pais e
educadores em geral, pois lhes traz um conhecimento científico sobre um
problema tão conhecido: o conflito entre
adolescentes e pais. Quando os pais assistem a palestra adquirem uma visão
diferente sobre a questão e conseqüentemente têm maior compreensão sobre essa
fase tão difícil e delicada dos filhos adolescentes, facilitando, assim, o
convívio entre eles e dando-lhes maior apoio e segurança. O que constitui um
fator de proteção aos filhos adolescentes.
A adolescência não possui uma definição precisa, clara, como temos
noção da infância e idade adulta. Em algum ponto a imaturidade da infância e a
maturidade da idade adulta estão os seis
ou sete anos que chamamos adolescência. Para o leigo, a adolescência refere-se
simplesmente ao processo de crescimento, o período de transição entre a
infância e a idade adulta compreendida entre os 13 e 19 anos de idade. Entretanto,
o período da adolescência varia de cultura para cultura e vem abrangendo
períodos cada vez maiores, podendo se estender até os 22 anos ou mais, idade na
qual considera-se que o indivíduo seja capaz de estabelecer sua identidade
pessoal. O termo adolescência refere-se aos desenvolvimentos psicológicos que
estão relacionados aos processos do crescimento físico, definidos pelo termo
puberdade. (HERBERT, 1991).
Nessa
fase, o adolescente apresenta:
•contornos da
autonomia
•processo
doloroso em muitos aspectos, gratificante e alegre em outros
•período
diferente dos outros períodos de desenvolvimento
•conserva
aspectos infantis e já tem aspectos adultos
A Síndrome da
Adolescência Normal (SNA) é um conjunto de “sintomas” característicos da
fase da adolescência, que embora se apresente como universal há características
bastante peculiares, conforme o ambiente sócio-cultural do indivíduo, não sendo
possível estabelecer seu início e término precisos, acreditando-se, todavia,
que culmina com o estabelecimento da identidade pessoal.
1. Busca de si mesmo e da identidade
2. A tendência grupal
3. Necessidade de intelectualizar e fantasiar
4. Crises religiosas
5. A vivência do tempo
6. A sexualidade
7. Atitude social reivindicatória
8. Condutas contraditórias
9. Separação progressiva dos pais
10. Constantes flutuações do humor
1. A busca de si mesmo e da identidade consistem em um processo de busca: com
encontros fortuitos, com as paixões repentinas, transitoriedade, formulação da
auto-imagem, autodefinição corporal e psicológica. O adolescente não é
reconhecido neste esforço; o ambiente tende a criticá-lo pela sua volubilidade
e culpabilizá-lo.
2. A tendência grupal onde o adolescente busca uma IDENTIDADE GRUPAL que facilita a resolução das
ansiedades em relação à própria falta de referenciais, modismos, posições
ideológicas e filosóficas.
3. Necessidade de intelectualizar
e fantasiar: o raciocínio
evolui do concreto para o hipotético dedutivo.
4. Crises religiosas: busca de
identidade, busca simultânea de um
mundo e uma dimensão religiosa que se tornam campo de experimentação e
possíveis definições.
5. A vivência do tempo: o adolescente tende a vivenciar o tempo de forma
peculiar, diferente; dilatação da dimensão do presente com conseqüente
afastamento da dimensão do passado e do futuro; é comum se referir ao passado
como algo vivido remotamente e ao futuro como algo longínquo. O adolescente tem
a percepção diferente do tempo em relação ao adulto.
6. A sexualidade: pode apresentar variadas tendências; ansiedades podem
ser geradas dependendo do ambiente.
7. Atitude social reivindicatória: o adolescente se percebe como parte de
uma coletividade, isso o torna capaz de uma ideologia, de uma atitude e de
um posicionamento.
8. Condutas contraditórias: experimentação constante; desvios
constantes dos objetivos originais.
9. Separação progressiva dos pais: ambivalência dos adolescentes entre
situações de dependência e independência. Pais: permissividade e autoritarismo.
10. Constantes flutuações de humor: diante de tantas modificações, conquistas
e impedimentos de toda ordem, o adolescente tende a ter polarizações tanto na
linha depressiva quanto eufórica. É uma flutuação constante de humor.
Segundo Freitas (2002), o adolescente é extremamente
vulnerável aos apelos provenientes do mundo das drogas em virtude das
modificações pelas quais passa o seu mundo interno. A fase da adolescência é
muito complexa, com ganhos e perdas importantes. A negação desse sofrimento é
que se traduz em uma das graves patologias desse período da vida do ser humano.
Essa negação, muitas vezes, conduz a comportamentos anti-sociais e
autodestrutivos, encobridores de uma intensa angústia existencial.
Se a criança cresce em um ambiente
familiar sem amor, sem limites, sem atenção, ela pode tornar-se um indivíduo
sem estrutura emocional para enfrentar os mais diversos problemas de sua vida.
Quando se torna um adolescente, essa mesma estrutura emocional frágil aliada às mudanças da adolescência são
fatores de risco para que ele vá em busca de um escape. E, se ele relaciona-se
com a droga, no próprio ambiente familiar ou social, a progressão para
desajustes sociais, que dentre outros pode ser a dependência de drogas, será
apenas uma questão de tempo.
A família e o adolescente
A família deve proporcionar autonomia para o jovem e favorecer seus
papéis adultos (socialização/individuação) para um desenvolvimento sadio, com
autonomia, independência e condições para tomar suas próprias decisões. Há
a necessidade de continência familiar:
uma moderação nas suas ansiedades, expectativas, críticas, etc...A
flexibilidade é a chave do sucesso: não ser radical, autoritário. A
adolescência exige mudanças estruturais e renegociações de papéis,
envolvendo,às vezes, duas gerações. Os pais, ao satisfazerem as necessidades de
maior apoio e autonomia, podem entrar em contato com necessidades semelhantes
neles mesmos. A tensão pode vir de ambos os lados, pais e filhos. Os pais devem
aprender a ter um relacionamento adulto com os filhos crescidos. Para os pais é
muito difícil deixar de tratar os filhos como crianças. Deixar de tratá-lo como
o “nenê da mamãe”, por exemplo. Na maioria das famílias, com filhos adolescentes, os pais estão com seu foco de
atenção em outros pontos (muitas vezes reavaliando casamento e a carreira) e
deixam de prestar atenção às necessidades de seus filhos adolescentes. O filho
que reivindica independência pode vir a
criticar os pais que a concedem com facilidade. O pendor para a independência é
natural, mas a perspectiva de uma independência completa é assustadora. Ele
precisa de limites dos pais e ele quer ter esses limites para se sentir parte
de um grupo, sentir-se amado e protegido.”Não devemos nos limitar a dar
educação às nossas crianças, devemos ensiná-los a ser pessoas.” (Herbert Spencer). O questionamento dos valores paternos sem
qualquer diálogo leva os adolescentes a criticar as falhas dos pais. Nas
famílias em que as decisões e a auto-regulação são limitadas, os adolescentes
tendem a ficar mais dependentes e menos seguros, cooperando-se, assim para o
desenvolvimento de um adulto inseguro e dependente de outras pessoas. A
adolescência também constitui uma fase de perda para a família: perde-se a
criança para dar lugar ao adulto jovem. A filosofia a ser aplicada nesta fase pode
ser chamada de “afrouxe e aperte”: dizer “sim” sempre que possível; “não”,
quando preciso. Flexibilidade é necessária. O mais importante de tudo é não se
afastar emocionalmente do filho. “Pais
podem falar o quanto quiserem, mas só irão ensinar quando praticarem o que
pregam”. (Arnold Glasow).
A presença do pai é importante. É difícil para as mães tratar de
problemas disciplinares sozinhas.
Sampaio (1994): A presença dos pais junto ao filho é tão ou mais
importante nessa etapa do que na infância, uma vez que seu papel agora é o de
estar atento, de mobilizar sem dirigir, de apoiar nos fracassos e incentivar
nos êxitos, em suma, estar com eles e respeitar cada vez mais sua
individualização. (...) que possa ter capacidade para aceitar o que não pode
mudar, coragem para mudar o que é preciso e sabedoria para reconhecer a
diferença.
É necessário que os pais, outros familiares, professores e adultos, que
convivem diariamente com o adolescente, estejam atentos e dispostos a ajudá-lo
a passar de forma construtiva por essa fase do ciclo vital.
•Satir (1991): “confiem
nos jovens”
* família é
contexto natural para crescer
* família é
complexidade
* família é
teia de laços sangüíneos e sobretudo de laços afetivos
* família
gera amor, gera sofrimento
“É na educação dos filhos que se
revelam as virtudes dos pais”. (Coelho Neto)
Fontes:
Aula da Dra. Sandra
Scivoletto - psiquiatra Especialista em
Psiquiatria da Infância e Adolescência no curso de Aprimoramento em
Dependências Químicas pela USP.
HERBERT, M.
Convivendo com Adolescentes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.
FREITAS, L. Adolescência,
Família e Drogas – A função paterna e a questão de limites. Rio de
Janeiro: Mauad, 2002.
OSÓRIO, L. C. Adolescente Hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
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