O significado original per vertio,
por sua vez derivado de per vertere,
remete à noção de “pôr de lado”, ou “pôr-se à parte”.
Historicamente, perversões de conceitos morais foram atribuídas a
perturbações de ordem psíquica, que dariam origem a tendências afetivas e
morais contrárias às do ambiente social do pervertido.
Para essa visão, a perversão poder-se-ia constituir em uma única anomalia
psíquica do indivíduo, ou fazer-se acompanhar por déficit intelectual, de
instabilidade emocional, de doença mental intercorrente, etc.
O comportamente do pervertido seria, então, determinado pelo seu nível
intelectual: enquanto as perversões dos com o “nível intelectual inferior”
seriam impulsivas, brutais, praticadas sem rebuço, as dos “indivíduos de bom
nível intelectual” seriam quase sempre astuciosas, dissimuladas, encobertas.
Entre os atos mais frequentemente apontados como perversões, por se
desviarem de forma mais grave do comportamento tido como normal do ponto de
vista social, são atos tidos como desvios sexuais: sadismo, masoquismo,
pedofilia, exibicionismo, voyeurismo, etc.
Sabe-se que a masturbação também já foi considerada uma modalidade de
perversão sexual no passado. Na medicina moderna quando o comportamento
individual de excitação sexual somente se dá em resposta a objetos ou situações
diferentes das tidas como normais, e quando esse comportamento interfere na
capacidade do indivíduo de ter relações sexuais e/ou afetivas tidas como
normais, dá-se o nome a essa disfunção de parafilia
Estrutura Psíquica e Comportamental
Na Psicanálise, perverso é toda pessoa que possui um modo de funcionamento
psíquico baseado numa estrutura perversa.
Histórico do conceito
O conceito psicanalítico de “perverso” tem origem na obra de Freud, nos
Três Ensaios Sobre a Teoria de Sexualidade, publicado em 1905. Nesta obra
inicial Freud trata da perversão como desvio da conduta sexual que não visa a
genitalidade.
Inicialmente o termo era restrito ao comportamento homossexual,
sado-masoquista, fetichista, entre outras modalidades de cópula que não se
orientavam pela penetração peniano-vaginal.
Com o passar dos anos Freud começa a perceber que a escolha narcísica de
objeto, ou seja, a escolha homossexual de objeto feita de maneira recorrente
pelos homossexuais, pedófilos e fetichistas denunciavam um modo de
funcionamento psíquico e discursivo diferente das neuroses e das psicoses.
Na Introdução ao Narcisismo, ao discorrer sobre seus estudos onde a
patologia do “amor próprio” começa a ficar claro a diferença que ele percebe em
relação aos neuróticos e psicóticos.
A partir de 1919 relaciona perversão e édipo, nos textos “Uma criança é
espancada: Contribuição ao estudo da origem das perversões”, “A dissolução do
complexo de édipo”, e “A organização
genital infantil: uma interpolação na teoria sexualidade”.
Nestes textos ainda não há uma indicação clara de um mecanismo específico
que indique o caminho da perversão como uma estrutura. Pensamos que aspectos da
sexualidade perverso-polimorfa podem estar presentes em qualquer estrutura, sem
que isto a defina. O conceito de recusa aparece como um mecanismo normal da construção da
sexualidade, que posteriormente é superado, a castração aceita e os desejos
incestuosos, juntamente com os desejos de completude sucumbem ao recalque.
No texto “Fetichismo” de 1927 a recusa passa a ser entendida como um
elemento permanente que, associado a cisão do ego (Spaltung), se tornam os
mecanismos de defesa que marcam a estrutura perversa.
Em seu pequeno trabalho dedicado ao fetichismo Freud propõe que a chave
desta forma de perversão se encontra justamente em uma duplicidade de atitudes
diante da castração da figura materna: reconhecimento e repúdio a um só tempo.
Ora, isto só é possível à custa de um processo dissociativo que, como
torna-se evidente, incide no eu. Não se trata de uma degeneração ou
incapacidade constitucional de síntese mas de um processo de defesa.
A patologia neurótica se caracteriza pelo recalque (Verdrängung) do desejo
durante o Complexo de Édipo. A somatização de conversão histérica, por exemplo,
esta ligada a um desejo sexual que não foi satisfeito pelas vias normais.
Na patologia psicótica há uma rejeição (Verwergung) da realidade e do
Complexo de Édipo. Os delírios, alucinações de depressões são uma tentativa
frustrada de dar sentido e lógica a uma visão de mundo particular.
Já na patologia perversa o que ocorre é recusa (Verleugnung) da Castração
Edipiana. O perverso não aceita ser submetido as leis paternas e, em consequência,
as leis e normas sociais. Ele não rejeita a realidade e nem recalca os seus
desejos.
Ele escolhe se manter excluído do Complexo de Édipo e da alteridade e passa
a satisfazer sua libido sexual consigo mesmo (narcisismo). Este é o motivo de
todo o perverso ter uma escolha homossexual de objeto, sendo representado por
ele mesmo em alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto.
Foi Jaques Lacan que transformou esta opção de recusa da castração e da lei
como estrutura psíquica singular a neurose e a psicose.
Características comportamentais
Segundo os diversos estudiosos da perversão alguns comportamentos são
predominantes desta estrutura patológica.
* Sedução:
Ao contrário da histérica que seduz por impulso, por uma necessidade
inconsciente, o perverso seduz com intenção de manipular e controlar as pessoas
ao seu redor. Através da incitação sexual, do choro, ou da sedução de ordem
financeira, entre outras, o perverso usa suas vítimas no seu leque de
relacionamentos. O perverso sempre tira proveito da sedução.
* Vampirismo:
Os perversos sugam recursos e energias de outras pessoas para se manter existindo.
É muito comum que um perverso, em vida adulta produtiva, continue recebendo
rendimento de pais e parentes.
Um perverso também pode tirar sua fonte de rendimento aplicando golpes no
Governo (aposentadoria, por exemplo), ou criando situações onde possam receber
indenizações de outras pessoas ou empresas. É comum, em mulheres, ficarem
grávidas para só viverem de pensão.
Os perversos são pouco afeitos ao trabalho próprio como meio de própria
subsistência.
* Escolha narcísica de objeto:
Um perverso procura estabelecer relações mais intimas com aqueles que se
assemelham com ele ou por quem ele tem inveja (ou seja, quer ser como).
Sua escolha homossexual de objeto o leva a ter amor somente por si mesmo.
Quase nunca leva em consideração os sentimentos e necessidades do outro. A
escolha sexual, apesar de ser narcísica, não esta limitada ao homossexualismo.
Há perversos que mantém relações sexualmente heterossexuais mas,
psiquicamente, homossexuais. A opção homossexual também não se restringe a
estrutura perversa podendo também aparecer nas psicoses, como bem observou
Freud, Melanie Klein, Masud Khan e Lacan.
* Mentira:
O perverso é um mentiroso patológico. Ele sabe mentir muito bem e sabe
convencer as pessoas de que está certo. Utiliza de retórica sofística, demagogia
e apelo emocional na mentira com o intuito de conseguir o que quer.
Nas neuroses histéricas e na personalidade borderline também existe o fator
mentira. A diferença é que o perverso a utiliza para tirar benefícios, lucrar e
pode usar este recurso mesmo que isso traga prejuízo para outras pessoas. A
teatralidade e a falta de constrangimento são marcas bem características.
* Problemas com a
autoridade/moral/lei: Lacan bem observa que um dos sintomas que
se propagam após a castração dos desejos por parte da autoridade (pai), o
perverso sente um imenso prazer em desafiar regras morais e legais. Eles se
sentem desconfortáveis quando estão sob a autoridade de um chefe, parceiro,
juiz, policial ou de qualquer outra função normativa.
Quando são obrigados a aceitar uma ordem fazem o serviço mal feito ou
sabotam o trabalho. Os perversos possuem um sistema de moral e de justiça muito
peculiar baseado em sua centralidade narcisista.
Características psicossomáticas
Muitos autores como Masud Khan e Otto Kernberg perceberam, ao longo de seus
estudos com pacientes perversos, alguns sintomas recorrentes de saúde.
Estes problemas não se restringiam somente a doenças sexualmente
transmissíveis, conscientemente atribuído a promiscuidade sexual e
inconscientemente relacionado com a negação de gerar ou dar uma vida para outra
pessoa. Problemas relativos ao aparelho procriador são constantemente relatados
por estes pacientes.
Para os pósreichianos como Federico Navarro os problemas nos órgãos
reprodutores são produzidos pelo fluxo de energia libidinal que, em relação com
o sistema psíquico, produz sintomas que comprometem órgãos relacionados a
fertilidade.
A rejeição de se entregar verdadeiramente para uma pessoa, de ser solidário
ou de ajudar o outro sem esperar um retorno pessoal causam um bloqueio
energético específico nos níveis 6 e 7. Com exceção dos perversos que se
utilizam do aparelho reprodutor e da capacidade de gerar filhos no intuito de
explorar tal condição, uma boa parcela dos perversos retratam alguns problemas
genitais específicos desde a adolescência.
Apesar da orientação reichiana estas observações são compartilhadas por
algumas linhas da psicologia, psiquiatria e psicanálise.
* Homem:
Alguns homens de estrutura perversa apresentam constantes feridas no pênis. Também
apresentam uma contagem baixa de esperma desde a adolescência. Geralmente
apresentam desajustes hormonais que comprometem o crescimento de pelôs em
muitas partes do corpo como no toráx, sobrancelha, costas e genitais.
* Mulher:
Algumas mulheres de estrutura perversa relatam pequenas feridas ou manchas nos
lábios genitais e vulvas. Desde a adolescência possuem problemas com o útero
que comprometem seriamente a capacidade reprodutiva.
É comum problemas hormonais que atrapalhem a ovulação e a possibilidade do
surgimento de cistos. Os desajustes somáticos do aparelho reprodutor produzidos
pela perversão podem, entre outras coisas, comprometer a saúde de um possível
feto gerado.
Fonte: www.consultoriopsicologico.blog.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário